Sítio Joaninha: Passado, Presente, e um Sonho Intenso


Na década de 60, quando o crescimento populacional e o desenvolvimento dos municípios paulistas foram consideráveis, as políticas sociais e a pressão do comércio nos grandes centros urbanos obrigaram as classes mais desprivilegiadas a saírem destas localidades. O comércio e as grandes indústrias nunca admitiram a presença das classes pobres por perto, e este foi um dos fatores que levou muitas famílias de baixa renda a procurarem outros lugares para viver.

Os centros foram tomados por lojas, fábricas, restaurantes, imóveis comerciais e residenciais de alto padrão. As populações mais pobres não tinham condições de consumir nesses lugares e estes fatores faziam com que essas famílias saíssem em busca de novos lugares para sobreviverem, não tão caros, onde poderiam desfrutar do dinheiro que ganhavam, já que viver que no centro da cidade tornara-se caro. Essa é uma procura que acontece até hoje, quanto mais a economia cresce, mais difícil fica viver nos grandes centros, não apenas pelo crescimento comercial, mas também pela força da especulação imobiliária que não quer os bairros centrais utilizados pela população de baixa renda.

Foi assim que se formaram a maioria das comunidades consideradas de risco ambiental. As pessoas não tinham para onde ir, e foram sendo empurradas para a periferia, ocupando as áreas de mananciais ao redor da cidade que ainda estavam vazias, passsando a viver nessas “áreas proibidas”. Isso também aconteceu na comunidade chamada Sítio Joaninha.

O nome se deu por conta de uma de suas primeiras moradoras, que se intitulava dona da área, chamada Dona Joaninha.

Segundo os moradores mais antigos, antes das ocupações, o Sítio Joaninha era um vasto eucaliptal, com várias plantas e inúmeras espécies animais; contam também que as ruas e as estradas foram todas abertas pelo os moradores com a enxada e a força de vontade.

O Sítio Joaninha teve tudo para ser um belo lugar, e o que impediu foi o fato de, durante trinta anos, seus moradores suportarem um vizinho nada agradável chamado de Lixão Alvarenga.

Esse lixão recebia lixo de São Bernardo do Campo, Diadema, Santo André, São Caetano do Sul, Mauá e Grande São Paulo, os moradores contam que vinham até caminhões do litoral paulista, o que só degradou a comunidade que antes era uma bela área de manancial com nascentes, solo fértil e várias riquezas naturais, e que hoje tornou-se é um “cemitério” de lixo, pois mesmo com o lixão sendo desativado, grande parte dele continua alí enterrado. Esse lixo provoca um grande problema que é a contaminação das águas com a liberação de um líquido tóxico chamado chorume que surge da decomposição do lixo orgânico.

Outro grande problema que a comunidade enfrenta é a falta de saneamento básico. Não há água encanada, exceto uma vez por semana, quando o caminhão-pipa vai até a comunidade, sendo que às vezes fica dias sem aparecer. Conversando com uma moradora algumas semanas atrás ficamos sabendo que o caminhão já estava atrasado há seis dias, o que dificulta a vida de todos.

A energia elétrica é feita com os famosos “gatos”, ligações clandestinas que os moradores fazem para poderem usar luz elétrica em suas casas. Essas ligações são puxadas de Diadema, ou de São Bernardo do Campo.

Para chegar até as escolas, comércios e unidades de saúde, os moradores precisam andar de 20 a 30 minutos, por que dentro do Sítio não tem nada disso e, em dias de chuva, é extremamente difícil para saírem de casa ,pois as ruas não são asfaltadas e as estradas de terra se transformam em caminhos de lama.

Mesmo com tantos problemas e com uma história tão difícil, a comunidade do Sítio Joaninha resistiu e quer acreditar em uma melhora. Hoje percebemos que esse sonho é cada vez mais intenso, e com a implementação do novo núcleo do Centro Cultural Beija-Flor dentro do Sítio Joaninha, os moradores terão um espaço para serem motivados, lutar por uma vida melhor, e por seus direitos.

Texto: Olhar Social

Revisado por: Tatiana Cardeal

Foto feita em um dia de entrevistas no Sítio Joaninha, por Isabelli Gonçalves

Nenhum comentário: